sexta-feira, 12 de novembro de 2010

TURBULÊNCIA (por Maria Helena Passos)

Como um passageiro de avião que faz o caminho de volta do oeste para o leste pela mesma rota e enxerga o mesmo branco das nuvens pela janela, envelhecer, para mim, nesta meia idade, é muito parecido com a adolescência.
Então, entrei na área de turbulência com hiatos de pura contemplação sem a menor consciência e rodeada quase que exclusivamente por adultos.
Aos 50 anos, me senti empurrada de mulher para coroa a começar o vôo de retorno. Empurrada por grandes perdas afetivas. Mas, sobretudo pelos mais jovens, a uma condição que eu não sentia dentro de mim.
Como dos 9 aos 15, tudo voltou a mudar o tempo todo. Só que na adolescência eu nem pensava na mudança. Agora, não há como não sabê-la. E não pensá-la.
Da janelinha do meu avião meus olhos já não se fixam lá fora com a mesma desatenção de antes. Observo muito mais do ponto de vista das minhas 58 primaveras. Distraio-me menos e contemplo com mais calma as formas das nuvens e as nuances do céu.
A nova perspectiva pode ser menos esfuziante. Mas é mais aconchegante. Sabedoria? Quem sabe. Se for, só digo que o pulo do gato é que agora não como mais comida de avião.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

INVISIBLE (por Anne Nicholson)

It's a subject I have a problem with. I always thought I would die early as in the poem of a friend of the Beatles Roger McGough back in the 60s - "Let me die a young man's death, not a clean between the sheets death ..." And here I am. 61.
One thing I feel about getting older is you become invisible to those around you who are younger. Or people talk down to you like the blind woman Nowell, who died recently at around 80, and when she was on a flight the hostess asked her would she like "uma aguinha" and she replied - No I'd like a double scotch.
I saw my sister recently and she has got into this grannie mode - white hair, shuffling about and asking people to help her with things. I am not ready for that.
In a way, I finally feel at some kind of peace with myself. Gone are the majority of 'angsts' that followed me through life. I have accepted myself for who I am and that makes me happy.
I do feel present society has become obsessed with being fit and having a trim body and no wrinkles and it’s plastic surgery if you don't. That does not interest me - I prefer your Susan Sarandon, Katherine Hepburn to the ridiculous "Plastic Peruas" of the US, Brazil etc. What I do love is to hear/read/see something and not feel my thoughts unworthy on the subject. Feel I passed the better half of my life trying to 'fit in' and now this doesn't bother me. I am me and have reached a state of happiness. Having my son has given me a sense of communication from trying to help another human being through life and growing up, their thoughts, their needs which I never had with my parents. In my family you were on your own the moment you could walk.
I am in the midst of laser treatment on my face (for rosacea) and it's more for making me feel good to have these red veins blitzed and not feel like red faced gringa. Gives me confidence.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

domingo, 7 de novembro de 2010

NADA EM LUGAR NENHUM

Que medo é esse que a pega de surpresa no meio de uma tarde radiante em que caminha pensando na vida?
É um medo que interrompe a reflexão e invade incontáveis células da razão.
brrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr....
É o mesmo tremor de uma outra tarde, distante no tempo. Aos 15 anos, no meio de uma aula de francês, ela começa a pensar na morte e em algumas certezas que acreditava ter adquirido:o fim é o mesmo que o nada. E o nada a gente não sente!
Foi tão intensa a experiência de tentar viver esse vazio absoluto que a jovem saiu do ar. Uma espécie de perda de sentidos consciente. E quando foi "despertada" pela professora a imagem que viu, exposta pelo retroprojetor, foi a de uma quadro do pintor francês Diderot. Uma balsa do desespero recheada de seres humanos que tentavam se salvar.
Os anos passaram. A jovem desistiu, aos poucos, de reviver a sensação do "nada em lugar nenhum". E seguiu seu caminho.
Agora, bem mais próxima desse infinito non sense, ainda busca as razões ocultas da ciência evolucionista que nos trouxeram até este final de ano de 2010.
brrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr....
O tremor ao olhar no espelho e enxergar os próximos anos.
O calor aconchegante do abraço cúmplice.
A tristeza das despedidas que vão aumentar.
A alegria ao perceber que o desafio e a aventura ainda despertam a mesma vontade de descobrir....
Os planos que não param de brotar.
Até sempre, apesar do infinito non sense.

RECONHECIMENTO (por Silvia Ávila)

Você me pede prá escrever impressões pessoais sobre envelhecimento, o que atualmente vem me deprimindo em função de muitos velhos em volta, cada vez mais dependentes.
Envelhecer, amadurecer, pode ser bom do ponto de vista psicanálitico, mas não é nem um pouco bom numa sociedade que despreza e não valoriza os velhos.
Há um monte de frases feitas perfeitas, tipo gostaria de ter a experiência que tenho hoje com um corpo de 25 anos. Como isso não é possível, só posso dizer que envelhecer, por mais enriquecedor que seja, não vale a pena. Velhos não são reconhecidos profissionalmente e, quando são, acabam mal pagos, porque sempre têm jovens estagiários de plantão.Isso é apenas uma reclamação em função do momento atual.
Por outro lado, não troco um único momento de minha vida, de minha experiência, por qualquer jovem capaz de escrever "pesso" exatamente assim, com dois ss, como tenho visto de forma recorrente. Enfim, já passei das 15 linhas, mas o que posso dizer a respeito é que depois dos 40, 45, se você acorda sem nenhuma dor, continua deitada porque você já morreu!
Nessa altura do campeonato, só quero chegar a ser avó. Ainda estou longe disso, batalhando a formação de minhas filhas, mas é meu projeto de vida: me tornar uma avó, sei lá sobrevivendo de que jeito, e consciente de que não dá prá acordar mais sem dor nenhuma. Ela é inevitável à idade. Fazer o que? Conviver muito bem com tudo isso!

CONVERSINHA DE VÉIO, SÔ.... (por José Maurício de Oliveira)

Gosto de pensar que a vida é um roteiro que alguém encomenda pra você na base do “senta-e-escreve-aqui-agora”. Assim, pá-puf, primeiro tratamento, primeira pessoa, trama difusa, personagens em processo, viradas ao acaso. Escrita automática.
Aí vem a Tânia e faz a pergunta fatal: e o terceiro ato, como será?
Sei lá, meu! Ainda tô escrevendo. Quando terminar, se não arrancarem a última lauda na marra da Olivetti que não tenho mais, paro pra ler e te conto, tá?

(Enquanto isso, aceito alguma dica sobre como lidar com essa dorzinha pentelha que, de uns tempos pra cá, deu de bicar as juntas, os neurônios e a alma...)